Por Marcelo R.
O governo brasileiro continua vendendo ilusões econômicas para o povo.
Uma delas diz respeito aos benefícios da expansão do varejo. O varejo, no entanto, não gera em si mesmo nenhum tipo de especialização produtiva ou inovação. Um exemplo: a parte sofisticada de um software deve-se aos distribuidores e industriais que o utilizam. É por causa das distribuidoras e indústrias que existem os controles de estoque, curvas ABC, controles de contas, cálculo de índice de inadimplência, controle de boletos bancários, controle de rotas, sistema de vendas externas etc.
É raríssimo um varejo sair da fase de “bodega de bairro”. No exemplo do software, vemos como funciona a cadeia produtiva: um industrial contrata uma empresa de marketing digital porque precisava de um software sofisticado ancorado em uma consultoria empresarial de ponta. Esses são os chamados “serviços produtivos”. Em comparação, um supervarejista de shampoos e cosméticos só precisa utilizar o módulo de vendas do sistema; sequer utiliza o “contas a receber” usava, pois o seu “fiado” é o próprio cartão de crédito.
Todo o negócio desse varejista se resume em baratear custos e humilhar fornecedores que fazem tudo para ter os seus produtos nas prateleiras do grande comércio. No auge de seu negócio, o supervarejista estava com cinco lojas e a mão de obra dele se resumia aos vendedores das lojas e um gerente (o único com um grau de instrução elevado em toda a cadeia de negócios). Além disso, esse mesmo supervarejista sempre quer baratear a mensalidade do software em uma entropia comercial que não traz nenhum incremento aos negócios. Luciano Hang, o Véio da Havan, é um varejista desse estilo.
A esse modelo podemos chamar “círculo entrópico”: entropia gera entropia e menos é sempre menos. Aliás, a velha fórmula econômica de risco e recompensa continua sendo válida: quanto maior o risco, maior recompensa.
A redução de custo só implica num verdadeiro ganho se ela tiver ocorrido por meio do aumento de risco. Um bom exemplo é o descobrimento das rotas marítimas pelo portugueses. A meta era reduzir o custo evitando comprar dos árabes que agiam como intermediários. Contudo, isso implicava num risco enorme que eram as navegações. Como houve êxito, os ganhos ficaram altíssimos (1000%+ a 2000%+ de lucro). De quebra, toda a tecnologia da navegação da época avançou muito.
O risco atual diz respeito aos modelos de inovação tecnológica e sofisticação e todo problema é quando se quer apenas reduzir custos, mas sem correr nenhum risco. Utilizando o exemplo das navegações, seria como se na época tentassem resolvem o problema do custo da intermediação árabe pedindo à população para reduzir o custo de mão de obra ou consumir menos especiarias.