Nunca houve realmente liberdade no Facebook. Sempre houve perseguição a pessoas ou páginas que ousam expressar opiniões que vão na contramão dos consensos oficialmente sancionados pela hegemonia pós-liberal atlantista que rege o Ocidente.
Isso sempre foi sabido e reconhecido por todos que ainda assim utilizavam o Facebook em suas estratégias de disseminação de informações e conhecimentos contra-hegemônicos. Afinal, apesar da eterna ameaça de censura, ainda assim o Facebook se provou uma das ferramentas mais úteis de divulgação de ideias à margem do consenso ideológico oficial.
Não obstante, já a partir do final do ano passado, o Facebook anunciou que atualizaria os seus algoritmos com o objetivo de limitar a disseminação de “fake news”.
Ora, quando o termo “fake news” surgiu isso se deu nos meios políticos alternativos, especialmente relacionados à candidatura presidencial americana de Donald Trump, com constantes acusações de que corporações midiáticas como a CNN e outras eram criadoras e disseminadoras de “fake news”.
Nesse sentido, é evidente e claro que o termo “fake news” surgiu para deslegitimar a mídia de massa, a mídia controlada pelas grandes corporações, a mídia dos grandes canais de TV, dos grandes jornais e das grandes revistas, por seu papel em servir como “Ministério de Propaganda” das forças sistêmicas da hegemonia global liberal. No Brasil, por exemplo, falar em “fake news” é falar nas Organizações Globo e em todos os seus tentáculos.
Mas essa hegemonia mantém o seu status e a sua rede de poder precisamente por sua plasticidade. Uma das características fundamentais do liberalismo é exatamente esse caráter plástico, que lhe permite se apropriar de tudo, até daquilo que pretende lhe fazer oposição.
A partir de 2017, portanto, a própria grande mídia de massa começou a se apossar do termo “fake news”, mas no sentido inverso. Canais de TV, jornais e revistas começaram a falar no tema, mas torcendo-o, de forma a atribuir o termo às mídias alternativas e independentes, equiparadas em sua legitimidade às “correntes de Whatsapp”. Segundo a grande mídia de massa, tão somente ela guardaria a legitimidade da difusão de notícias e informações e exatamente nessa perigosa hora de “fake news” onipresentes é que o povo deveria depositar o máximo de confiança no jornalismo “com credibilidade”, o seu.
Mas não ficou aí. Ressentida com a instrumentalização das redes sociais por organizações e figuras contra-hegemônicas, que tem levado a hegemonia global liberal a derrotas eleitorais em diversos países, essas forças hegemônicas pressionaram o Facebook, que rapidamente cedeu.
Ao fim de 2017, o Facebook anunciou a modificação em seus algoritmos, e já a partir do início desse ano, o tráfego e os acessos às páginas não-alinhadas ou contra-hegemônicas despencaram. Isso é algo que tem sido relatado por páginas das mais diversas orientações e que trabalham com os mais diversos assuntos: de páginas esquerdistas a páginas direitistas, de páginas religiosas a páginas filosóficas, de páginas científicas a páginas artísticas.
Em média, a queda nos acessos foi de 40-60%, mas no caso de algumas páginas, como o da página americana MintPress News, a queda nos acessos foi de 94%, conforme relatado por eles próprios.
Algumas páginas têm sido derrubadas ou marcadas pelo Facebook a partir de denúncias por sites de “fact-checking”, como o Snopes e outras, como difusoras de “fake news”. “Fact-checking”, por sua vez, não sendo outra coisa que uma tentativa de “neutralizar” a partir da assunção de uma postura falsamente imparcial e “científica” a difusão de notícias e posições que não interessam à hegemonia.
Não há nada que indique que essa onda de censura e sabotagem vá parar em breve. Ao contrário, em fevereiro deste ano o Facebook anunciou uma parceria com o think-tank americano “The Atlantic Council”, com o objetivo de combater a “proliferação de desinformação”, especialmente em período eleitoral.
O Atlantic Council, porém, é financiado pelas principais corporações do complexo militar-industrial, como a Raytheon, a Lockheed Martin e a Boeing, bem como pela OTAN e pelos EAU, ou seja, por partes que possuem interesse direto na manutenção da máquina de propaganda e guerra do imperialismo neocon.
Em outras palavras, a viabilidade instrumental do Facebook está se estreitando. Estando plenamente alinhado com os interesses de corporações, ONGs e think-tanks globalistas, o Facebook a partir deste ano passou a tomar uma postura mais ativa na preservação da hegemonia narrativa do atlantismo.
Associando-se isso às tentativas crescentes de limitação do acesso à internet nos EUA, na União Europeia e no Brasil, vemos que o cenário futuro para a atuação contra-hegemônica na internet em meios virtuais é complicado.
Construir alternativas se tornou mais necessário do que nunca.