O Etno-Estado, fetiche da alt-right, não é outra coisa que o Estado-Nação moderno. E portanto, o pai de todos os erros, tragédias e dramas identitários da modernidade. O Etno-Estado é tão nivelador quanto qualquer outra modalidade de Estado moderno (do qual ele não passa de uma variação).
Afinal, onde se situa o limite que traça as fronteiras? Os espanhóis são uma “etnia” e devem ter seu próprio Etno-Estado? Ou seriam os galegos, catalães, andaluzes, bascos e outros os que deveriam a ter cada qual o seu? Onde ficam as fronteiras na França? Existe uma etnia francesa, que deva ter seu Estado? Ou deveria haver Estados para bretões, occitanos, normandos, alsacianos, auverneses, etc? E na Alemanha? Há uma etnia alemã, ou o que há são etnias saxãs, bávaras, hessianas, pomeranas, etc., cada uma devendo ter seu Estado?
Observe-se que a neurose “etnonacionalista” corre o risco de colocar seus defensores em uma espiral de desintegração infinita. Não foi outra coisa que houve na Iugoslávia. E continua. Afinal, descobriram-se diferenças “insuperáveis” entre sérvios e montenegrinos: talvez no futuro vejamos novas desintegrações na região (e é bem isso que se defende para a Rússia).
O fato da diferença étnica não parece ser fundação suficiente ou razoável para justificar a posse de um Estado. Obviamente, também não é qualquer concepção cívica abstrata de teor liberal. Não vivemos em um universo político no qual só existe nacionalismo étnico e nacionalismo cívico.
A essência e justificação do Estado estão em algo imaterial, em uma decisão fundamental tomada por um grupo. Nesse sentido, o Estado parece ser a institucionalização em larga escala, a nível burocrático, daquela antiga organização masculina, a Männerbund.