De 4 em 4 anos, nas vésperas da Copa do Mundo, eles aparecem novamente. São os verdadeiros guardiões da moralidade política, preocupadíssimos com os rumos da nação. E eles vêm para esclarecer as massas, dizendo que o “futebol é pão e circo” e que “tão roubando enquanto vocês gritam gol”.
Há até aqueles que atacam a Copa e o futebol por se tratar de algo de teor “machista”, que serve para reforçar símbolos da masculinidade, etc.
Mas por trás desse discurso vazio e superficial, o que se oculta é um notório elitismo burguês. Quem o profere é gentinha cosmopolita e desenraizada, fissurada em maratonas de séries de TV, no programa da Fátima Bernardes e por aí vai.
Se oculta por trás desse discurso uma mistura de ódio ao povo e um senso de retidão moral, que faz com que a pessoa se sinta uma iluminada em meio a milhões de ignorantes, que precisam de suas palavras de sabedoria para que se tornem pelo menos um pouco menos ignorantes. São as mesmas pessoas que dizem defender pautas populares, mas acham o povo brasileiro machista, homofóbico, transfóbico e por aí vai.
A Copa do Mundo é um rito sazonal de grande importância política e histórica. Ela não é uma suspensão da política, como pensa o hipster progressista. Ao contrário. Rivalidades geopolíticas são transplantadas para o campo de futebol e, muitas vezes, a honra de todo um povo, humilhado ou derrotado por algum evento político, pode ser resgatada por uma bola na rede aos 45 do segundo tempo.
Basta lembrar da vitória argentina sobre a Inglaterra nas quartas-de-final em 86, 4 anos após a derrota militar nas Malvinas. A catarse garantida pela vitória foi suficiente para devolver o orgulho aos argentinos.
Quando se fala em um país cheio de problemas prestar atenção no futebol e “esquecer” dos problemas, os progressistas esquecem que boa parte desses problemas talvez só existam por conta de uma disposição psicológica coletiva de um povo, que talvez precise apenas de algum tipo de motivação para erguer a cabeça e tentar dar a volta por cima.
O futebol não é uma dimensão isolada da sociedade. Ele é afetado por questões políticas, econômicas, sociais e culturais e, por sua vez, também interage com todos os outros âmbitos da sociedade.
Quem acha que Copa do Mundo é perda de tempo não tem maturidade intelectual suficiente para compreender as razões pelas quais as potências mundiais investem bilhões no esporte. Para países como China, Rússia e EUA, por exemplo, uma medalha de ouro nas Olimpíadas tem importância geopolítica imensa.
São só as mentes pequenas e ressentidas de gente pseudo-iluminada, criada em condomínios fechados, e com um imenso desprezo pelo povo, que não consegue entender (ou pelo menos respeitar) as paixões profundas que a Copa do Mundo desperta em bilhões ao redor do mundo.
Pois que comece a Copa do Mundo e que reine o espetáculo do futebol!