Vocês querem saber uma das principais características para diferenciar um produto da “cultura popular” de um produto da “cultura de massas”?
Retire o aspecto mercadológico, e veja qual das duas se sustenta.
Os produtos da “indústria cultural” nascem da lógica do mercado, vivem sob a lógica do mercado, e só sobrevivem sob a lógica do mercado.
A cultura popular não. Ela é autêntica, e sobrevive a tais entraves.
A cultura de massas deteriora tudo que é autêntico e orgânico que nasce na vida local ou nacional de um povo, a fim de criar produtos superficiais que deixem de ser locais ou nacionais.
Por que?
Porque tal como um carro e outros produtos industriais de “linha de produção”, a cultura, as produções musicais, artísticas, a culinária, etc., são mais lucrativas se feitas “em série”.
As músicas serão mais lucrativas se você produz apenas um punhado de estilos de música, pra difundir em todo o mundo, ou em todo um país, como o Pop estadunidense, ou o sertanejo universitário no Brasil.
A comida será mais lucrativa se você reproduz exaustivamente um punhado específico de receitas da forma mais rápida e barata possível, tal como é praticamente todos os fastfood’s que disseminam franquias por todo o globo.
Não há mais um intercâmbio cultural saudável entre regiões e entre nações. Há apenas a imposição “democrática” do mercado.
E essa é a verdadeira diferença entre a cultura de massas e a cultura popular.
Se você retirar da equação a lógica do lucro, a verdadeira cultura popular floresce ‘naturalmente’.
O acarajé, a feijoada, o bobó de camarão, e etc., não deixarão de existir se a lógica do lucro deixar de ser a lógica central de nossa sociedade.
O sertanejo, o forró, o samba, o maracatu, o cavalo marinho, o samba de coco, o frevo, (e até mesmo o rap e o funk!), não deixariam de existir se a lógica do lucro deixar de ser a lógica reinante.
Estes pratos típicos, estas canções e estilos musicais, e as mais diversas manifestações culturais, surgiram na história do Brasil e da humanidade, por fruto dos próprios processos históricos, surgiu “naturalmente” e “organicamente” em seu seio.
O sertanejo universitário, o funk ostentação, algumas facetas do rap “pop” brasileiro, os fastsfoods, etc., todavia, surgiram num contexto específico de lógica do Capital. Se disseminam pelo lucro, e só podem existir pelo lucro.
Se essa lógica acaba, as pessoas não deixarão de cozinhar feijoada, os nordestinos não deixarão de dançar forró, as baianas não deixarão de fazer acarajé, os recifenses não deixariam de escutar brega, o funk nem o rap não deixariam, por si só, de existir.
A cultura brasileira, e as suas várias vicissitudes permanecem, todavia não permanece a força que tenta empurrá-las para uma “produção em série”, nem permanecem as relações sociais que visam uma “homogeneização” do mercado consumidor.
Todo aquele preocupado com a produção cultural de seu povo, que deseja verdadeiramente a plenitude de um povo culto (não no sentido verborrágico vira-lata de se limitar a consumir “cultura erudita europeia”, mas no sentido de um povo que tem acesso pleno a produção cultural da humanidade), precisa compreender corretamente este assunto.
Todo aquele preocupado com seu povo, sua nação, e o verdadeiro florescer de nossa cultura, tem de saber diferenciar a cultura produzida pelo povo da cultura produzida pelo mercado.
• A cultura de massas é superficial, industrial, produzida “em série”. Comercialmente, uma cultura que caminha do mercado às massas.
• A cultura popular é orgânica, autêntica. Que não parte, inicialmente, do mercado às massas, mas vai das próprias massas às massas.
A cultura autêntica e popular é enriquecedora, a cultura de massas é embrutecedora.
Elas coexistem parcialmente, todavia são incomensuravelmente opostas. E uma só floresce em detrimento da deterioração da outra.
A cultura de massas busca captar na cultura em geral e na cultura popular em específico, elementos que se “sobressaiam” nelas, para repeti-los numa linha de produção. A cultura de massas, figurativamente falando, explora a cultura popular. A primeira só sobrevive mediante o espinhaçamento da segunda.
A cultura popular, todavia, tal como sempre existiu antes da lógica do Capital, e sempre existirá mesmo depois da superação dessa lógica, não depende da “exploração” da cultura de massas como a cultura de massas necessita da exploração sobre ela.
Portanto, a cultura (a popular e toda a cultura autêntica, popular ou não) só florescerá em sua plenitude com a aniquilação da cultura de massas.
-Disto, podemos concluir:
1 – A cultura popular precisa florescer.
2 – A cultura de massas precisa ruir.
3 – A cultura popular só floresce plenamente onde a indústria cultural é aniquilada plenamente.
Abaixo a Indústria Cultural!
Viva a Cultura Popular!