Contra quem combatem, realmente, a Rússia, o Irã, as forças lealistas e o Hezbollah na Síria? A resposta para tal questão, respeitando o intrínseco caráter dicotômico sacro/profano da ciência geopolítica [1], não pode se limitar à ideia do conflito pelo controle dos recursos, e dos corredores energéticos, ou pela vontade norte-americana de impôr o próprio domínio sobre o Rimland eurasiático. O projeto “Grande Oriente-Médio”, inaugurado no início do novo milênio pela administração Bush-Cheney, impresso na constituição do pivô geopolítico curdo como ponta-de-lança útil para a desestabilização da região, tem um precedente, substancialmente idêntico na estratégia, no Plano Oded Yinon de 1982, voltado para a realização da Grande Israel (Eretz Yisrael) nos limites esperados para o Estado hebraico pelo pai do sionismo, Theodor Herzl, em 1904: em outras palavras, “do rio egípcio ao grande rio, o rio Eufrates”, segundo o que está escrito no livro de Gênese (15, 18-21).
Tal Plano, conhecido como Uma estratégia para Israel nos anos oitenta [2], além de reivindicar o Sinai, perdido pela artimanha do presidente egípcio Sadat frente a ocupação sionista, como parte integrante do Estado hebraico, lança a base para a futura desestabilização da área e para uma estratégia de longo prazo que conduziria Israel inevitavelmente ao controle total da região e de seus recursos. O Plano, publicado sob forma de artigo na revista sionista Kivunin (Direções), visa, de fato, a desintegração do mundo árabe como fator fundamental para o desenvolvimento da política de poder hebraica: “no longo prazo este mundo não será mais capaz de existir”. O artigo, tratando do Iraque, se expressa nestes termos: “a dissolução do Iraque é ainda mais importante para nós que a da Síria. O Iraque, rico em petróleo, é um candidato garantido para os objetivos de Israel […] No Iraque, uma divisão de províncias ao longo de uma linha étnico-religiosa é possível. Assim, três ou mais Estados existirão ao redor das três cidades mais importantes: Basra, Bagdá e Mosul. A zona xiita no sul separada da sunita e curda ao norte” [3].
Não é por acaso que, em 1982, mesmo a Síria sofreu, sob pressão do Mossad e da CIA, a rebelião islamista de Hama [4]. E não é por acaso que, no curso do mesmo ano, o Líbano, já enfraquecido pela guerra civil, sofreu uma nova agressão sionista (Operação Paz na Galiléia), cujo objetivo real era a anexação do sul do país dos cedros, com a expulsão parcial da população xiita, com base em argumentos histórico-religiosos. Tanto que a direção do rabinato militar fez circular entre os soldados, em estadia no Líbano, mapas geográficos do Eretz Yisrael com muitos dos nomes de aldeias e cidades escritos em hebraico [5].
Ora, é um dado factual que o núcleo central da facção dita neocon do Partido Republicano americano, que havia tido um papel preponderante na administração Bush, possuía uma ascendência judaico-sionista que não era irrelevante. Também é verdade que o lobby sionista exerce uma notável influência sobre o Congresso. E a atual administração Trump, após os anos de lead from behind de Barack Obama, é expressão da corrente mais extremista do sionismo norte-americano. Não precisamos dizer que a recente decisão de interromper o plano de abastecimento dos chamados “rebeldes sírios” é facilmente explicável pelo fato de que estes haviam exaurido a sua função, agora que a construção do pivô curdo é fato consumado.
Compreender o fato de que o sionismo seja apenas o ramo laico (entendido no sentido etimologicamente correto do termo laikós, ou seja, popular, vulgar) de um projeto imperialista-messiânico mais vasto, é apenas o primeiro passo para determinar o caráter real do conflito geopolítico em ato no Levante. O objetivo deste artigo é demonstrar a conexão estreita que existe entre messianismo e imperialismo, e como o imperialismo, longe de ser exclusivamente um “estado específico da economia mundial” [6], é resultado inevitável de um projeto messiânico prestes a evoluir da fase regional à mundial.
O Imperialismo como resultado do Messianismo:
Carl Schmitt, na tentativa de compreender o real significado do termo nomos, identificou três acepções diversas às quais o substantivo grego pode fazer referência: apropriação, divisão, produção [7]. O jurista alemão, ao mesmo tempo, ressaltou como a história dos povos, com as suas migrações e conquistas, é uma história de apropriação da terra, e de como essa apropriação não deveria ser entendida exclusivamente como apropriação de terra livre (sem senhor), mas também como conquista de terra inimiga subtraída de seu proprietário precedente. A narrativa da conquista de Canaã, da parte dos hebreus, representa o arquétipo bíblico desta forma de apropriação.
Carl Schmitt também fez notar como a redação de um dos textos fundamentais do marxismo-leninismo, O Imperialismo: Fase Superior do Capitalismo, vem inspirada não tanto da observação das relações econômicas, mas da formulação do programa de política mundial da parte de Joseph Chamberlain, que considerava o imperialismo, entendido no sentido de apropriação de novas terras, como a solução da questão social. Lênin, impressionado com tal declaração, não pode fazer outra coisa senão constatar o caráter predatório e usurpador do imperialismo anglossaxão. O próprio fato de que a divisão e a produção devessem ser precedidas pela expansão colonial, aparecia ao revolucionário russo como a expressão de uma ordem contrária ao progresso, reacionária e desumana. Todavia, Lênin não negou o caráter tríplice do significado do termo grego nomos, mas o readaptou a uma filosofia da história na qual a apropriação é substituída pela expropriação, a divisão se torna redistribuição, e onde o aumento desmesurado da produção torna obsoleta toda forma de nova apropriação. Carl Schmitt também aponta como, neste ponto, o socialismo se encontra com o liberalismo, na medida em que ambos consideram o avanço infinito da técnica como o único sistema capaz de evitar uma recaída no direito primordial da presa [8].
Todavia, a análise do líder bolchevique, concentrando-se marxisticamente no aspecto puramente econômico e predatório do imperialismo britânico, não pôde intuir o caráter religioso deste fenômeno que, pouco depois, seria completamente evidenciado na passagem à grande Ilha: a América.
O estudioso Anders Stephanson examinou profundamente a ideia de “Destino Manifesto”, expressão cunhada por John O’Sullivan na metade do século XIX para definir a missão norte-americana de expansão no continente designada a eles pela Providência e, sucessivamente, utilizada pelo Presidente Wilson para ressaltar o papel estadunidense de guia do mundo rumo a um futuro melhor através de uma constante intervenção de caráter regenerador. Stephanson chegou à conclusão de que os Estados Unidos não tem sido o único país a atribuir a si um caráter exemplar a partir de sua própria identidade nacional. “Todos os Estados nacionais, ou pelo menos os impérios do passado, sustentaram a própria singularidade ou acreditaram terem sido consagradas por uma ordem superior. Todavia, nenhum teve a pretensão de que tal consagração devesse impôr uma transformação do mundo à sua imagem e semelhança, conduzindo ao fim da história mesma” [9]. Stephanson reconhece que este papel profético e universal seja um produto da herança puritana, do ressurgimento da narrativa do Êxodo e, portanto, do tema hebraico da eleição divina através do Pacto com Deus. Não está, portanto, errado afirmar que o imperialismo norte-americano possua uma descendência direta do messianismo hebreu. O povo eleito possui uma enorme responsabilidade sobre seus ombros: a escolha entre o bem e o mal, que determinará se o pacto realizado com Deus durará ou não. Uma escolha que implica na necessidade de intervir no mundo, segundo a justiça, para mudá-lo e regenerá-lo. E somente através da Nova Israel, a justiça universal retornará ao mundo.
Uma perspectiva semelhante, em primeiro lugar, certifica a justeza da afirmação do pensador conservador polonês Emmanuel Malynski, que considerava toda forma de imperialismo como “megalomania nacionalística” [10]. Em segundo lugar, certifica a absoluta coincidência entre o ideal imperialista norte-americano com o seu antecedente judaico. “Nos textos clássicos da tradição hebraica, universalismo e particularismo étnico-religioso, e nacionalista, não são duas tendências contrapostas, mas dois aspectos da mesma ideologia messiânico-imperialista. O universalismo coincide com o império universal de Javé e com o domínio do povo eleito. Universalismo é sinônimo de imperialismo universal judaico” [11]. Tal universalismo deriva do pacto que Javé, antes pacto com os patriarcas, através de Noé, firmou com toda a humanidade. “Segundo os exegetas hebreus, o início da Bíblia teria sido escrito em uma perspectiva universalista, enquanto a aliança entre Javé e Abraão teria introduzido um importante elemento particularista” [12]. Porém, tal suposto universalismo não está em contraposição ao particularismo, mas também não é uma consequência lógica.
Ora, se é verdade que a missão de Abraão, segundo a interpretação geralmente aceita por todos os estudiosos da Bíblia, não se limita à criação de Israel (“na tua descendência serão benditas todas as nações” – Gênese 22, 17-18), ela é entendida também como recriação de toda a humanidade. É verdadeiro, entretanto, que tais nações serão benditas apenas se reconheçam a soberania de Javé, “como aparece no Salmo 72, onde a bênção das nações implica a sua submissão total a Israel e ao seu Messias” [13]. As mesmas ideias hebraicas de paz (shalom) e de justiça (sedeq), com base na Torá, são associadas à mera supremacia sobre o inimigo. “Ao centro da esperança do Antigo Testamento não está a perspectiva de uma paz universal, neutra, na qual todos os homens convivem como são. No centro da esperança messiânica está, ao contrário, a potência de Javé, obtida ou com a submissão espontânea dos povos ou com a vitória marcante sobre todos os inimigos […]. A paz universal não é outra que a paz judaica, que é o reconhecimento da soberania de Javé e a submissão de todos os povos da terra à ordem mundial estabelecida pelo Messias e ao domínio universal de Israel” [14]. Uma perspectiva não muito distinta da vontade globalista de imposição da Pax Americana impressa na ideia de que “o Messias seja a América mesma e sua mentalidade” [15]. E não é coincidência, que diversos exegetas cristãos da Talmud tenham identificado o Messias hebraico, não como pessoa singular, mas como um povo: “precisamente o povo de Israel, predestinado a reinar sobre o universo” [16].
Assim, sobre um pano de fundo profundamente influenciado pelo messianismo hebraico, se desenvolve o ideal imperialista estadunidense. O presidente Wilson, ao fim da Primeira Guerra Mundial, define os Estados Unidos como uma Nova Israel: uma nação eleita e messianicamente destinada a portar a lei e a ordem no mundo. E é sobre este pano de fundo messiânico que ocorre a deformação da doutrina isolacionista do Presidente Monroe, à sua época já centrada na ideia da superioridade moral da América (pátria da liberdade) [17] nos confrontos da Europa (lar do despotismo, segundo Thomas Jefferson) [18]. E é também neste instante que se compreende a passagem do imperialismo regional da Doutrina Monroe ao imperialismo mundial.
Uma passagem que se compreende também no Midrash (investigação, pesquisa) dos textos sagrados do hebraísmo e, particularmente, no comentário de Gênese de R. Shelomoh ben Isaak, mais conhecido como Rashi. Ele afirma: “Se os povos do mundo dissessem a Israel ‘vocês são saqueadores, porque subjugaram pela força as terras pertencentes às sete nações’, seria possível responder assim: ‘toda a terra pertence ao Santíssimo, bendito seja Ele: foi Ele quem as criou e as dou a quem parecia justo a seus olhos. Com um ato da sua vontade, Ele as tirou e deu a nós’. Porque todo o universo pertence a Javé e Ele, com um ato livre da sua vontade, deu aos israelitas a Terra prometida; Ele, implicitamente, pode dar ao povo eleito também o mundo inteiro” [19]. Assim, sendo Javé senhor não apenas da Palestina, mas do mundo inteiro, o domínio universal judaico representa a passagem imediatamente sucessiva em relação à reconquista hebraica da Terra prometida.
Sobre o Messianismo e o Sionismo:
O movimento sionista, nascido oficialmente na segunda metade do século XIX, não obstante a sua pretensa impostura laica e socialista (uma armadilha que conseguiu enganar mesmo um estadista com tendências anti-judaicas como Josef Stálin) [20], representou o êxito inevitável do messianismo hebraico. A formulação das fronteiras do Estado hebraico na obra de Theodor Herzl, de 1904, segundo linhas estabelecidas em Gênese 15, 18-21, e a que foi proposta pela delegação sionista na Conferência de Paz de Versalhes, segundo Números 34, 1-15 e Ezequiel 47, 13-20, são a demonstração mais evidente. O retorno dos hebreus, numericamente fortalecidos na Palestina; a reedificação de Jerusalém e a reconstrução do Templo sobre o monte de Sião, sede da presença divina entre os homens, são os sinais que, na escatologia hebraica, abrem as portas para o advento da era messiânica.
Ora, lendo O Estado Hebraico de Theodor Herzl, manifesto programático do sionismo, o caráter messiânico do projeto, não obstante o véu progressista e laicizante de muitas das suas palavras de ordem, aparece com clareza. “Nós mostramos a via para a Terra Prometida” [21]. E ainda: “[…] o mundo será liberto através da nossa liberdade, enriquecido pelo nosso enriquecimento e engrandecido pela nossa grandeza” [22]. E, com enorme clareza, são postos em evidência os instrumentos, também aprovados pela doutrina rabínica, através dos quais se objetivava a realização de tal projeto. Afirma Herzl: “A Palestina é a nossa pátria histórica, inesquecível […] Se sua Majestade, o Sultão, nos desse a Palestina, poderíamos, em troca, nos empenhar em ajustar completamente as finanças da Turquia; para a Europa, que deverá garantir nossa existência, representaremos ali uma vanguarda contra a Ásia; assumiremos o papel de posto avançado da civilização contra a barbárie” [23]. O fato de que Herzl ignorou deliberadamente a presença da população árabe na Palestina, à época amplamente majoritária, é já por si mesmo representativo do caráter exclusivista e étnico-religioso impresso na projetualidade sionista. Todavia, extremamente chocante é a intenção voltada à desintegração do Império Otomano por meio da chantagem econômica (o dinheiro e a “aristocracia do dinheiro” como instrumentos de domínio) [24]: uma desintegração que, em pouco tempo, terá sido produzida, internamente, pela Revolução dos Jovens Turcos (definida por alguns como a Revolução Hebraica no Império Otomano) [25] e, no que concerne a sua dimensão territorial, pela Primeira Guerra Mundial. Mas a ideia de desintegração do Império Otomano, na perspectiva do messianismo hebraico, não é de origem recente.
Solomon Molcho, e o seu mestre David Reubeni, que tiveram um papel relevante na construção da tese sobre as raízes judaico-cristãs da Europa e, assim, na influência dos cristãos, almejando submetê-los às ideias do messianismo judaico [26]. Antes de acabarem nas chamas da Inquisição de Carlos V, fizeram um giro pelas cortes da Europa, buscando convencer os soberanos europeus da necessidade de atacar o Império Otomano para recriar o Reino de Israel. De modo particular, Molcho propõe ao Papa Clemente VII a ideia de criar um exército de marranos (hebreus falsamente convertidos ao cristianismo) para a realização de tal empreitada.
Os movimentos milenaristas inglês e protestante, profundamente influenciado pelo messianismo hebraico, abraçaram, por sua vez, a ideia restauracionista na convicção de que o retorno dos hebreus à Terra Santa avizinharia o novo advento do Cristo.
De enorme importância foi também o papel desempenhado por Sabbatai Zevi, que, por volta da metade do século XVII, vem a ser considerado por boa parte da população hebreia da Europa, África do Norte e do Levante como o Messias, dando vida àquele movimento conhecido como sabateanismo, cujo objetivo era a desintegração do Império Otomano – e, com isso, do Islã – por dentro. Sabbatai Zevi, de fato, ordenou a seus discípulos e familiares que se convertessem falsamente ao Islã para atingir semelhante propósito, dando vida ao fenômeno conhecido no território otomana como donmeh.
Não é por acaso que, usualmente, o wahhabismo, que agora é o aliado mais importante do sionismo na território do Levante, seja frequentemente comparado ao sabatianismo. Nathan de Gaza, mentor e inspirador de Sabbatai Zevi, em seu tempo, escreveu relatórios falsos, enviados para várias comunidades judaicas europeias, nas quais ele descrevia detalhadamente a ação de um exército imaginário que, partindo do Najd, conquistaria a Meca e a Medina e destruiria os túmulos dos Companheiros do Profeta e de sua família: exatamente o que os wahhabitas fizeram, com seu alcance ideológico anti-tradicional e a-cultural, uma vez que chegaram ao poder na Península Arábica [27]. O mesmo inspirador do wahhabismo, Muhammad Abd al-Wahhab, na tradição islâmica é muitas vezes comparado a Shaitan. É relatado na Sunna profética que Shaitan tomou a forma de um ancião do Najd no momento em que os Quraish decidiam o destino reservado ao Profeta Muhammad, sugerindo que ele deveria ser morto. Não é, porém, uma questão de se Abd al-Wahhab fosse famoso entre seus contemporâneos como “o velho do Najd”.
Assim, é em torno da cidade sagrada de Jerusalém que se concentra o projeto messiânico judeu-sionista. Sua ocupação pelos sionistas europeus, identificados com o povo de Gog e Magog na perspectiva do Shaykh Imran Hosein, constitui a premissa para a manifestação do Dajjal – o mentiroso ou falso messias –, que tem um papel proeminente no sistema escatológico islâmico [28]. E mesmo no domínio cristão, antes da rendição definitivo ao sionismo pelo Concílio Vaticano II, desde as origens da tradição patrística, o Messias judeu foi assimilado ao Anticristo, que tentaria destruir a religião cristã e subverter a ordem social construída pela Igreja. “Segundo os Pais da Igreja, o Anticristo surgiria do próprio seio do judaísmo e seu advento coincide com o triunfo de Israel e com a reconstrução do Templo de Jerusalém” [29].
Conclusões:
Youssef Hindi, em um artigo de 2015 intitulado Rússia, Europa e Oriente: a Dupla Estratégia do Império para dobrar Moscou, tenta provar que Rússia e Irã não estão lutando contra o imperialismo norte-americano, mas contra o judaico. Hindi destaca como a estratégia sionista em relação à Rússia (mantendo boas relações diplomáticas, mas uma oposição feroz a qualquer aliado russo na área) se combina com a da América do Norte. Em julho de 2013, a Arábia Saudita, principal aliado sionista da região, através da voz do Príncipe do Terrorismo, Bandar bin Sultan [30], buscou atrair a Rússia para seu lado, oferecendo arranjos econômicos favoráveis. A forte rejeição do compromisso pela Rússia marcou o progressivo cerco norte-atlântico que culminou no golpe na Ucrânia e o aperto do choque no Levante.
Se a cristandade ocidental está atualmente domesticada e prostrada perante aos desejos imperialistas da entidade sionista, a cristandade oriental, mais intimamente ligada à tradição paulina, ainda atua como um “bastião da Tradição”, cuja destruição é a condição do advento do reino messiânico e da dominação universal de Israel. Edom [31] é o nome com o qual, nos textos pós-bíblicos, vem indicado a maior potência ímpia e idólatra daquele tempo: Roma, considerada um império pré-messiânico. Após o pôr do sol do Império Romano, este nome passa para a segunda Roma (Constantinopla), seguindo a sua queda e o translatio imperii a Moscou (a terceira Roma). Edom – entendido como a Cristandade –, na perspectiva do messianismo judaico, é, assim, assimilado às forças do mal que serão aniquiladas por Javé.
O filósofo e místico Vladimir Solovev, na soma profética de seu pensamento Os Três Diálogos e a História do Anticristo, por meio do personagem do General, convidava o Império Tsarista a se tornar um baluarte do cristianismo, expandindo-se para além de Constantinopla e rumo a Jerusalém [32]. Uma perspectiva semelhante é hoje inviável. No entanto, o renovado engajamento da Rússia no território, e o apoio a Síria, ao Líbano, ao Iraque e ao Irã, lançam importantes presságios futuros. Neste sentido, o reconhecimento russo de Jerusalém Ocidental como a capital do Estado judeu, ao invés de uma concessão ao imperialismo judeu, deve ser interpretado como um aviso para que não avancem além. Especialmente quando consideramos que, no final do conflito de 1967, Moshe Dayan, Ministro da Defesa da Entidade Sionista, declarou Jerusalém, totalmente ocupada pelo sionismo, a única e indivisível capital do Estado judeu.
Notas:
[1] C. Mutti, La geopolitica tra il sacro e il profano, su: https://www.eurasia-rivista.com/la-geopolitica-sacro-profano-verona-25-febbraio/
[2] O. Yinon, Una strategia per Israele negli anni Ottanta, l’articolo è originariamente apparso in ebraico su Kivunim (Direzioni), un Giornale per il Giudaismo e il Sionismo, N° 14 Inverno, 5742, febbraio 1982 Editore: Yoram Beck.
[3] Ibidem.
[4] Si veda a tal proposito R. Dreyfuss, The Devil’s game. How the United States helped unleash fundamentalist Islam, Metropolitan Books, new york 2005.
[5] S. Fabei – F. Polese, I guerrieri di Dio. Hezbollah: dalle origini al conflitto in Siria, Ugo Mursia Editore, Milano 2017.
[6] P. M. Sweezy, La teoria dello sviluppo capitalistico, Bollati – Boringhieri, Torino 1976, p. 307.
[7] C. Schmitt, Appropriazione/divisione/produzione. Un tentativo di fissare correttamente i fondamenti di ogni ordinamento sociale, a partire dal nomos, in C. Schmitt, Le categorie del politico, Il Mulino, Bologna 1972, p. 297.
[8] Ibidem, pp. 302-303.
[9] A. Stephanson, Destino manifesto. L’espansionismo americano e l’impero del bene, Feltrinelli, Milano 2004, p. 18.
[10] C. Mutti, Imperialismo e impero, “Eurasia”, 1/2013
[11] G. P. Mattogno, L’imperialismo ebraico nelle fonti della tradizione rabbinica, Edizioni all’Insegna del Veltro, Parma 2009, p. 25.
[12] A partir desta perspectiva teológica, tem sua base no movimento do nooshismo [Noahidism]. Definido como um “sistema moral dentro da tradição judaica”, esta doutrina, concebida na era talmúdica, tem o único propósito de subjugar o máximo possível, transformando-os em prol do ideal judaico-messiânico judaico.
[13] L’imperialismo ebraico nelle fonti della tradizione rabbinica, ivi cit., p. 73.
[14] Ibidem, p. 29.
[15] A. Dugin, L’isola del tramonto, in Russia segreta, Edizioni all’Insegna del Veltro – Collana Elettrolibri, Parma 2014.
[16] L’imperialismo ebraico nelle fonti della tradizione rabbinica, ivi cit., p. 14.
[17] La libertà di cui qui si parla è la libertà così come solitamente la si intende in ambito anglosassone e dunque limitata da una precisa connotazione etnico-razziale. Thomas Jefferson, paladino dei diritti, era latifondista e proprietario di centinaia di schiavi. Le stesse popolazioni indigene dell’America, sulla base di un’esegesi biblica (del tutto simile a quella tradizionale ebraica) secondo la quale la terra non occupata dalla cristianità veniva considerata una terra della quale ci si poteva liberamente impadronire, avevano due opzioni di fronte a sé: la sottomissione al Dio cristiano o lo sterminio.
[18] C. Mutti, L’America non si isolerà, “Eurasia”, 1/2017
[19] L’imperialismo ebraico nelle fonti della tradizione rabbinica, ivi cit., pp. 69-70.
[20] Si veda a tal proposito L. Mlecin, Perché Stalin creò Israele, Sandro Teti, Roma 2008. Il Vozd, ingannato dal carattere socialista del progetto sionista, si convinse di poter usare lo Stato ebraico in funzione anti-occidentale. Ben Gurion dichiarò in più di un’occasione la propria riconoscenza all’URSS e ad altri paesi del campo socialista (soprattutto Cecoslovacchia e Yugoslavia) per il sostegno fornito in termini di armamenti alla causa sionista. Tuttavia fu lo stesso Ben Gurion ad ammettere che il socialismo era solo uno strumento di facciata, utile in quel preciso momento storico per la completa realizzazione del progetto sionista.
[21] T. Herzl, Lo Stato ebraico, Il Nuovo Melangolo, Genova, p. 160.
[22] Ibidem, p. 163.
[23] Ibidem, p. 60.
[24] “Quando il Signore, tuo Dio, ti avrà benedetto, come ti ha promesso, presterai a molte nazioni, ma non prenderei a prestito, dominerai molte nazioni, ma esse non ti domineranno” (Deuteronomio 15, 6). L’esegesi di questo versetto biblico è incentrata sull’idea dell’usura come strumento di dominio sui non ebrei.
[25] Il movimento dei Giovani Turchi, alla pari di diversi movimenti ispirati al riformismo islamico, ha un’origine prettamente massonica. René Guénon denunciò a più riprese la degenerazione della dottrina iniziatica determinata in età moderna da organizzazioni segrete, massoniche o pseudo tali.
[26] Y. Hindi, Occident et Islam: Sources et genèse messianiques du sionisme; De l’europe mèdievalè au choc de civilization, Editions Sigest, Parigi 2015, p. 202.
[27] P. Rumi, L’Islam nell’istante unipolare, su www.eurasia-rivista.com, Rubriche – Geofilosofia.
[28] I. Hosein, Jerusalem in the Qu’ran, su: www.imranhosein.org
[29] L’imperialismo ebraico nelle fonti della tradizioni rabbinica, ivi cit., p. 10.
[30] K. Barnett, Bandar bin Sultan: Prince of terrorists, su: http://www.veteranstoday.com/2013/09/21/bandar/
[31] Edom – il rosso – ed “edomiti” sono i nomi con i quali vengono definiti nella Bibbia Esaù, fratello di Giacobbe ed i suoi discendenti. Gli ebrei, pretendendo di essere figli di Giacobbe, consideravano Esaù come padre di Roma e della cristianità.
[32] V. Solov’ev, I tre dialoghi ed il racconto dell’Anticristo, Marietti Editore, Genova 1996, p. 96.