Liberais agem como se tivessem monopólio sobre o conceito de “Liberdade”. Para eles, só liberais são defensores da Liberdade, e quem não é liberal é inimigo da Liberdade.
Considerando que o liberalismo surge junto à modernidade, porém, isso significaria que, até este momento extremamente recente na história da humanidade, não havia defensores da Liberdade, tampouco homens livres. O absurdo inerente a essa posição escapa aos minúsculos cérebros dos liberais.
O fundamento do erro liberal está em sua concepção fundamentalmente anômica e anti-social de Liberdade, segundo a qual este conceito estaria ligado à ausência de restrições à ação individual. Inexistindo o Indivíduo, como já demonstramos anteriormente, o fundamento da Liberdade não pode ser a ação individual, nem pode residir especificamente sobre a esfera individual.
Nesse sentido, resta compreender a Liberdade nas duas dimensões realmente existentes da existência humana: a pessoal e a comunitária. Nisso, os antigos gregos ainda são professores exemplares e irrefutáveis. Se, para o liberalismo, o alcoólatra é livre se não houver impedimentos ou interferências externas que o impeçam de beber ou não beber segundo seus desejos, para os povos tradicionais tem sido consenso de que o alcoólatra é um escravo. Liberdade é autogoverno, não no sentido de isolamento em relação a impedimentos externos, mas no sentido de domínio dos desejos e pulsões humanas pelas faculdades superiores do homem.
Assim, contrariamente à compreensão liberal, a Liberdade depende da autoimposição de restrições, impedimentos e limitações.
E no que concerne a existência comunitária humana? Por analogia à cidade ou reino ou nação, a lógica é a mesma. A Liberdade comunitária depende de que todos estejam organizados e disciplinados para que cumpram suas funções, colaborem para a segurança, ordem e prosperidade geral e tenham suas prerrogativas e direitos respeitados. E, por analogia, a garantia da Liberdade comunitária tem por instrumento a coerção e a educação, dirigidas pela parte da comunidade designada a tutelar e coordenar os rumos da coletividade.
Qual é a conclusão? A conclusão não é apenas que os liberais não possuem monopólio sobre a ideia de Liberdade. Mais do que isso, a conclusão é a de que os liberais, enquanto defensores da ideia de “liberdade negativa”, enquanto defensores da ideia de que liberdade é ausência de impedimentos externos, são verdadeiros apologistas da escravidão, da servidão. Não é contraditório, portanto, que os liberais, no âmbito coletivo, defendam todas as medidas e políticas públicas que tendam a sujeitar nações e aprisionar povos. Está tudo bastante consonante com a própria essência da sua filosofia.
Não há Liberdade desvinculada de Virtude e de Disciplina.