Organização dos Grupos de Onze Companheiros ou Comandos Nacionalistas:
(Organização do povo)
1.1. Passamos a viver momentos decisivos de nossa vida e de nossa história. Aproximamo-nos, rapidamente, de um desfecho deste período cruel que se iniciou desde o fim da última guerra. O Presidente Getúlio Vargas, em 1954, decidiu morrer, dramaticamente, para que nós brasileiros, sob o impacto de seu sacrifício, viéssemos compreender a grande mensagem contida em sua carta-testamento. O imortal brasileiro decidiu morrer para que nós despertássemos. Sua mensagem é uma convocação dirigida a todos os brasileiros e patriotas para a luta contra a espoliação internacional de nossa Pátria, por ser esta a causa e origem profundas deste quadro de injustiças, de sofrimentos, de angústias e de pobreza que vem tomando a vida humana insuportável em nosso País. Hoje ninguém mais nos ilude, porque sabemos que os preços sobem, que a inflação acelera, que não vêm as reformas, que o nosso povo se marginaliza e tem de lutar desesperadamente para sobreviver e que a nossa própria soberania se degrada, em consequência do monstruoso processo espoliativo, do saque internacional que leva para fora de nossas fronteiras os frutos do trabalho e da produção do povo brasileiro. Uma minoria de brasileiros egoístas e vendilhões de sua Pátria, minoria poderosa e dominante sobre a vida nacional – desde o latifúndio, a economia e a finança, a grande imprensa, os contrôles da política até aos negócios internacionais – associou-se ao processo de espoliação de nosso povo. Esta minoria é hoje o que podemos chamar de anti-povo, de anti-nação. Não deixa que as reformas se realizem e opõe toda sorte de obstáculos à defesa dos interesses nacionais, porque as reformas e a libertação de nosso povo representariam o fim de seus privilégios anti-sociais e anti-nacionais. Cada dia que passa a situação fica pior para nosso povo. Quanto maior a espoliação de nosso País, tanto mais injusta e cruel a estrutura econômico-social interna, mais carestia, maior a elevação dos preços, mais grave a crise econômica. De 1945 até junho deste ano, o custo de vida dobrou, acumuladamente, várias vezes. A primeira vez em 8 anos, depois em 6, a seguir em 3 anos e, ultimamente, em 1 ano e meio, ou seja, em 18 meses. E a partir de julho último, na marcha que vamos, duplicará em torno de 10 meses, depois em 5 meses, a seguir 2 meses, etc… É a tendência lógica e trágica com base no ritmo de elevação dos preços nos últimos 19 anos. Quem afirma que não estamos caminhando para este quadro, está fora da realidade dos fatos ou apenas procura iludir os desprevenidos… Sem dúvida, aproximamo-nos, rapidamente, de um desfecho.
1.2. E como será este desfecho? Não é fácil prever, a não ser em suas linhas gerais. O povo, cada dia, com mais intensas manifestações de inconformidade (protestos, lutas por reajustamentos de salário e vencimentos, greves, choques no campo, alastramento da luta nacionalista); o anti-povo, a minoria privilegiada e dominante em crescente reação (em defesa de seus privilégios), apertará o cerco contra o povo, procurando manter o controle da situação em suas mãos. Para esta minoria, como ocorre já agora, os que reclamam e lutam contra este estado de cousas são agitadores, extremistas, radicais, subversivos, fidelistas, comunistas e tudo mais que se lê e ouve diariamente. E daí caminham para o Estado de Sítio, para as pressões, para medidas policias contra o que chamam de agitação, para as restrições das liberdades públicas e individuais para o chamado governo forte, para o golpe e a ditadura. Dirão sempre que tudo é feito em defesa da ordem, da democracia, do desenvolvimento econômico, da liberdade, da família brasileira e de nossas tradições cristãs. Ordem para esta minoria é a ordem dos cemitérios; democracia é o regime de minorias privilegiadas; desenvolvimento econômico é o esquecimento dos grupos empobrecidos do povo; em matéria de liberdade, a única que defendem mesmo é a liberdade de lucrar e fazer negócios; família, sim, desde que não se trata da família do povo, degradada pela carestia, pela crise, pela angústia, pela fome e a doença, pela mortalidade e pela injustiça social; e tradições cristãs, também, como se Cristo tivesse surgido no mundo como um homem de negócios ou com os privilégios do patriciado romano e não de uma família de operários, como se o Filho de Deus tivesse vindo a terra para confraternizar em festins e bons negócios com os espoliadores romanos que então dominavam e oprimiram o povo hebreu. Mas que importa, para nós brasileiros e patriotas, mais estas injustiças, perto do que vem sofrendo nosso povo? Nada disto conseguirá nos impedir de defender o nosso chão e os direitos sagrados de nossa gente, a sua libertação social e econômica. Nós sabemos que sem justiça social não há liberdade, nem dignidade e oportunidade para todos, nem desenvolvimento; ao contrário, só pode haver submissão, atraso, marginalismo, fome, incultura, oligarquias privilegiadas e dominantes, exploração do homem pelo homem. Sem emancipação econômica e social não há verdadeira soberania. Aproxima-se para todos nós brasileiros a hora da grande opção. Ou estaremos com o povo ou com os anti-povo, ou seremos patriotas ou traidores, com nossas atitudes ou nossa indiferença.
1.3 – E o que fazer? É a pergunta que formulam, por toda a parte, milhões de brasileiros patriotas e nacionalistas. Até agora, o que se tem feito é um grande esforço pela conscientização e esclarecimento dirigido a cada um dos 70 milhões de brasileiros. Milhões e milhões de brasileiros já despertaram, já adquiriram a necessária compreensão sobre as causas e as verdadeiras origens de nossos males, dos sofrimentos e injustiças que vêm recaindo sobre nosso povo. Esses milhões de homens e mulheres, de todas as gerações, estão por aí espalhados pelas cidades, pelos bairros, vilas, favelas e pelo interior desde País, já conscientes e esclarecidos sobre os deveres que se impõem, neste momento, a todos nós brasileiros. A quase totalidade, porém, pensa, fala ou age apenas isoladamente. A si mesmo vive perguntando o que fazer, como e quando deve fazer o que lhe cabe. Milhões de brasileiros aguardam uma orientação, uma palavra de ordem. Ressalvando o grande esforço de organizações de trabalhadores em seus sindicatos, dos estudantes e camponeses, de alguns líderes populares, intelectuais e de muitos de nossos irmãos militares, é este o panorama geral de nosso País. Milhões e milhões de brasileiros esclarecidos e inconformados estão mais do que prontos para agir e fazer alguma coisa, clamando por uma tomada de posição das lideranças e pela distribuição de tarefas, mas todos ou quase todos, sem qualquer articulação, imobilizados pela inexistência da organização que viria justamente dar impulso e canalizar a força invencível que representa o povo brasileiro mobilizado.
1.4 – A organização de nosso povo, eis a tarefa urgente e imprescindível, neste momento. Povo desunido, povo desorganizado, é povo submetido, sem condições de defender seus mais sagrados interesses e de realizar seu próprio destino. O povo brasileiro precisa urgentemente organizar-se. Onde quer que se encontre, mesmo nos lugares mais longínquos da Pátria. Se, em curto espaço de tempo, conseguirmos estruturar uma organização razoável, estarão criadas as condições para que o nosso povo, na hora do desfecho que se aproxima, nos momentos em que pretenderam garrotear as nossas conquistas democráticas, venha assumir uma posição, não apenas de defesa de suas liberdades, mas, também, para caminhar, por si mesmo, em busca da sua própria libertação. O que cabe fazer, portanto, neste momento, a todos nós, é exatamente: organização, organização, organização.
1.5 – Só uma pequena parte do povo brasileiro está organizada. As imensas multidões, a quase totalidade de nosso povo, embora grande parte consciente de seus legítimos interesses e já tenha se apercebido das injustiças que está sofrendo, ainda permanece sem um mínimo de organização. Portanto, presa fácil da exploração de minorias dominantes e privilegiadas. As tarefas de organização das massas humanas em nosso país são extremamente difíceis. O Brasil é um imenso continente e o nosso povo espalhado pela imensidão territorial. Seria uma empreitada impossível percorrer todos os Estados, cidades, bairros, regiões e localidades do interior e levar a feito diretamente as tarefas da organização. Ainda mais num espaço reduzidíssimo de tempo como é o que dispõe nosso povo para organizar-se, antes que desabe sobre ele o cerco das pressões dos grupos e oligarquias dominantes, à medida que a crise brasileira se aproxima do seu desfecho. É indispensável, portanto, o apelo á iniciativa de cada um, ao gênio criador de nosso povo, à sua própria capacidade de organização. Exatamente como ocorreu na crise de agosto de 1961, no Rio Grande do Sul e outras áreas do País, quando o povo organizou-se por toda a parte de modo espontâneo, por sua própria iniciativa, após o apelo feito à resistência popular contra o golpe que se pretendia desfechar contra os nossos direitos e liberdades. As iniciativas precisam surgir por toda a parte, onde quer que se encontre um brasileiro consciente, um nacionalista, um patriota; nas zonas de moradia, pelas vizinhanças, nos bairros, vilas, cidades, nas fábricas, nos escritórios, no campo, no interior rural, enfim, por toda a parte, mesmo nos lugares mais longínquos de nossa Pátria.
1.6 – GRUPO DOS ONZE COMPANHEIROS. Foi dentro deste pensamento que se tomou a iniciativa, através da RÁDIO MAYRINK VEIGA e demais emissoras da “Rede do Esclarecimento”, da organização dos “GRUPOS DOS ONZE COMPANHEIROS”, de reunir numa organização simples, ao alcance de todos, mesmo nas áreas ou localidades mais isoladas e distantes. Através da organização de pequenas unidades, teremos como articular e reunir imensos contingentes do povo brasileiro às organizações existentes, como sejam, a FMP (Frente de Mobilização Popular), CGT (Comando Geral dos Trabalhadores), Sindicatos, UNE (União Nacional dos Estudantes) e suas organizações, FPN (Frente Parlamentar Nacionalista), organização dos “SEM TERRA” e “LIGAS CAMPONESAS” e outras organizações populares, locais ou regionais, dentro do objetivo de consolidar e cimentar a unidade das forças populares e progressistas, de nacionalistas civis e militares, de todos os getulistas e trabalhistas que se consideram convocados pela CARTA DE VARGAS, de todos os brasileiros, homens e mulheres, que se disponham a lutar em defesa de nossas conquistas e realização imediata das reformas de base e pela libertação do nosso povo da espoliação internacional. A ideia da organização do “Grupo dos onze companheiros” inspira-se, justamente, numa realidade existente em nosso País e, nessas condições, no empenho de colocar o problema da organização popular ao alcance da compreensão e das possibilidades de nossa gente. Essa realidade é o conhecimento e experiência adquiridos pelo nosso povo, em matéria de organização de equipes humanas para a prática do esporte popular – o futebol! – hoje difundido e praticado, sem exceção, em toda a parte do território nacional, mesmo nas mais longínquas aglomerações humanas. Todos sabem que um time de futebol é composto por 11 integrantes, cada um com suas funções específicas e dentre eles um é escolhido para capitão ou comandantes da equipe, todos sabem que neste caso deve haver uma ação coordenada entre todos e que a equipe pouco significa se cada um dos seus integrantes age por si, isoladamente, sem comando, sem unidade de conjunto, sem adequada combinação entre todos. A força e expressão da equipe valem muito mais por sua coesão, pelo trabalho de conjunto perfeitamente distribuído entre seus integrantes e, muito menos, ou quase nada, pela ação individual ou isolada de cada um. E uma demonstração ao alcance de todos sobre o que significa, o que pode e como funciona o trabalho de equipe e a ação organizada. Até gora quase todos nós falamos, pensamos e agimos individualmente. No máximo, atuamos em reuniões ou movimentos eventuais, sem estrutura e distribuição de tarefas, sem unidade, sem firmeza de objetivos e responsabilidades permanentes. E assim mesmo, em círculos ou pessoas distribuídas pelo imenso território nacional, sem as indispensáveis ligações entre si. Agora passamos a viver uma fase que se compara aos momentos em que uma equipe esportiva tem de entrar em campo para enfrentar o adversário organizado. A ação individual precisa, a partir deste instante, ser substituída pela ação organizada em equipas humanas, articuladas entre si e interligadas adequadamente, para efeito de coordenação e comando, tanto local, quanto regional ou nacional. Até agora havia lugar para ação pessoal, isolada. Daqui por diante, indispensavelmente, precisamos agir, pensar e atuar organizados, em equipe, cada um com suas tarefas e atribuições. Um homem só, daqui por diante, é apenas um homem só. Dois, agindo isoladamente, talvez até se anulem, embora se encontrem empenhados nos mesmos objetivos. Porém, duas pessoas articuladas, não há dúvida que valem mais do que três. E se três se organizarem para agir em equipe permanente, identificados, com tarefas distribuídas, é certo que valem mais do que cinco. E nessas mesmas condições, cinco deverão valer muito mais do que dez, em eficiência e capacidade de ação. E assim por diante. Um grupo de onze companheiros pode parecer pequeno dado o grande número, os milhões e milhões de patriotas e nacionalistas existentes, em nosso País, e dispostos e cumprir as tarefas que a Pátria comum está exigindo de nós. Pode parecer pequeno, mas também pequeno é um simples tijolo. E é exatamente com pequenos tijolos reunidos, somados, interligados, cada uns com sua função e adequadamente dispostos é que se fazem as construções ou se complementam os grandes edifícios de concreto armado (organizações existentes). Assim, qualquer brasileiro que tenha sua consciência de patriota queimando de inconformidade com os sofrimentos e injustiças que aí estão esmagando nosso povo, onde quer que se encontre, pode e deve tomar a iniciativa junto aos seus companheiros e amigos, de sua vizinhança (em primeiro lugar), de fábrica, de escritório, da sua classe, do rincão onde vive, pelas lavouras e pelos campos, para a organização de um “Grupo de Onze”, reunir-se e fundar a organização.
1.7 – FINS E OBJETIVOS. Atuação organizada em defesa das conquistas democráticas de nosso povo (luta e resistência contra qualquer tentativa de golpe, venha de onde vier), pela instituição de uma democracia autêntica e nacionalista, pela imediata concretização das reformas, em especial das reformas agrária e urbana, e, sagrada determinação de luta pela libertação de nossa Pátria da espoliação internacional.
1.8 – DENOMINAÇÃO. Os companheiros devem mandar sugestões sobre a denominação definitiva dessas unidades de base dessa organização popular brasileira. O maior número de sugestões até agora recebidas indica a denominação de “Comandos Nacionalistas”. Aguardamos, com muito empenho, sugestões dos companheiros.
1.9 – FUNDAÇÃO, LIDERANÇA, SEDE, PRIMEIRAS TAREFAS E ARTICULAÇÃO. O ponto de partida deve ser o entendimento entre dois ou três companheiros, perfeitamente identificados e entendidos. Depois desse entendimento é que devem partir para novos contatos e para o recrutamento dos demais companheiros. Decidida em reunião e fundação do Grupo ou Comando, deve ser lavrada uma ata assinada por todos e onde constem os objetivos acima estabelecidos. Um compromisso verbal afirmado por todos tem a mesma significação do ato escrito. A seguir, deve ser feita, entre os companheiros, a escolha do líder ou chefe e seu substituto eventual. Uma comunicação imediata por carta ou telegrama (será preferível sempre entregar, quando possível, pessoalmente essa comunicação). Deve ser dirigido ao Deputado Leonel Brizola, aos cuidados da Rádio Mayrink Veiga (Endereço, Rua Mayrink Veiga, 15 – Rio de Janeiro – Estado da Guanabara). A sede pode ser, ora a casa de um companheiro, ora a de outro. Na comunicação precisa constar o endereço para correspondência. Os companheiros precisam estabelecer, entre si, um sistema de avisos, de tal modo que o Grupo possa se reunir ou se mobilizar em minutos, para o caso, por exemplo, de ameaça ou iminência de um golpe contra os nossos direitos ou liberdade. Tarefa importante para os companheiros é acompanhar as transmissões da Rádio Mayrink Veiga. Convém que se torne uma tarefa obrigatória ouvir as transmissões da Rádio Mayrink Veiga, às sextas-feiras, a partir das 21:30 horas (ou seja, 22:30 horas da Guanabara, devido a diferença de horário). Logo após a meia noite de sexta-feira, a partir de zero hora, serão lidas as comunicações enviadas pelos companheiros e difundidos esclarecimentos e instruções para as atividades dos Grupos ou Comandos integrantes da organização.