Autópsia Sociopolítica da Migração Talássica

Tudo mundo que possui pelo menos dois neurônios ativos sabe que ondas migratórias anormais desembocam na Europa há um bom número de anos. Mas seria tudo isso por acaso? Quais são as causas e que forças estariam por trás desse fenômeno?

Nos últimos anos, em solo europeu, tem se falado muito sobre o que é chamado de “onda migratória” pela grande mídia ocidental. Um termo que é muitas vezes manipulado pelas diversas forças chamadas “populistas” ou “nacionalistas”. Estas partes defendem uma chave de entendimento que consiste em se opor de maneira caricatural a um mal evidente, em vez de se opor E encontrar uma solução, diante das causas pelas quais elas são direta ou indiretamente responsáveis. A África nunca obteve uma independência real que lhe permitisse tomar em mãos seu próprio destino, em direção a seu próprio paradigma singular. Estamos falando de um continente policêntrico ainda asfixiado por políticas internas deletérias que, através de um certo concubinato incestuoso no campo político-econômico com a classe dominante oligárquica ocidental, por sua vez subordinada às forças globalistas, não permitem que a África progrida. Juntando várias realidades, chegamos ao problema migratório que vou desenvolver em quatro pontos.

  1. Ao tratar da questão da imigração, nunca se leva em conta que 80% da imigração africana é intracontinental. A maioria dos africanos prefere migrar dentro do continente, para os diversos países africanos vizinhos, em vez de emigrar para o exterior. O mito da propaganda esquerdista europeia e seu pensamento único que consiste em afirmar que os africanos “infelizes” não têm nada em casa, ou estão fugindo da guerra, e portanto são forçados a emigrar para outro lugar, em vez de seu refúgio de civilização africana, trata-se de é uma mentira. Um mito a ser desconstruído é sobretudo o da afirmação das forças da esquerda liberal que consiste em afirmar que toda a África está em guerra. A guerra que a África deve enfrentar é a das forças talassocráticas globalistas, que, para aplicar a regra geopolítica do “dividir e conquistar”, procuram exacerbar os conflitos interétnicos, dividindo aqueles que vivem em harmonia em casa. Não estamos falando de uma guerra ou de uma adversidade intencional e inata entre diferentes grupos étnicos. Interessante para sustentar apoiar este argumento que, em 10 de setembro de 1921, o líder espiritual congolês Simon Kimbangu (considerado hoje como profeta do Homem Negro) declarou em uma de suas profecias:

    “Os primeiros governantes da África negra livre, conduzirão, sob conselho do Ocidente (diríamos hoje, das forças globalistas), suas respectivas populações a guerras assassinas nas quais se matarão uns aos outros, para que a miséria se espalhe. Como resultado, muitos jovens poderiam deixar a África na esperança de buscar bem-estar nos países ocidentais”.

    O verdadeiro problema é, portanto, quem quer fomentar guerras e situações de pobreza para esvaziar a África. A imigração é, antes de tudo, um problema africano, porque nenhuma civilização progride sem sua força humana. É a base que deve ser denunciada, não a consequência natural. Além disso, a ideia de que o único objetivo para os africanos é o Ocidente é um pensamento que se adequa ao pensamento neoliberal único tanto da esquerda como da direita.

    Para voltar à questão da migração intracontinental, existem 4 polos para onde os africanos têm tendência a emigrar, no que diz respeito à África negra:

    a) Senegal (considerado como a capital da África Ocidental),
    b) Costa do Marfim (onde estatisticamente, o fluxo vem de Mali, Burkina Faso e Guiné),
    c) Nigéria (principalmente de Gana, Níger e Benin) e
    d) África do Sul (em sua maioria de vários países da África Central).

    A migração interna está muito presente na África e é um ponto fundamental a ser sublinhado ao abordar o assunto.
  2. Nenhuma pessoa gostaria de se separar de suas raízes, sua pátria, sua família, sua identidade e sua comunidade. É evidente que além de uma emigração continental “endoversa” (interna, se quisermos usar um neologismo), há também uma emigração “exoversa” (externa), para fora do continente africano, que é a mais visível. Mas se existe uma emigração exoversa, com os números que foram vistos nos últimos tempos, é evidente que isto é fomentado. Os primeiros responsáveis por esta hemorragia (marítima) talássica desregulamentada devem ser identificados na classe política africana que é incapaz de aplicar políticas sociais e soberanas que estejam em harmonia com as massas populares africanas. Ao mesmo tempo, há um saque imensurável de matérias-primas africanas pelas multinacionais capitalistas ocidentais e uma asfixia da soberania africana que impede qualquer forma de progresso. A má governança, a corrupção endêmica, a falta de justiça social, o abismo entre as classes, a presença do neocolonialismo em todas as suas formas, constituem uma essência que, somada, não pode deixar de ser abordada se a questão da migração talássica tiver que ser abordada. A falta de uma classe africana soberana (atualmente subordinada a potências exógenas) é a raiz do problema.
  3. Existem ONGs talassocráticas ocidentais que seguem a agenda globalista, financiadas pelo grande capital apátrida, ONGs humanitárias que usam a falsa boa consciência para acentuar o processo de dumping salarial, em vez de ajudar os africanos que emigram, a se enraizarem em suas terras e a resistir aos males da África (neocolonialismo ocidental e má governança africana). Aqueles que conduzem estas ONGs globalistas, em nome do humanismo (globalista, digamos especificamente), não têm prioridades em relação às populações proletárias e precárias europeias? Neste caso, não é uma questão de negar o resgate no mar. Estamos falando de humanidade, e o resgate de todo ser humano nessas condições é imperativo. Mas devemos colocar o pathos de lado e nos perguntar o que motiva os “salvadores” caucasianos a se engajarem em missões que, em última instância, vão ao encontro da agenda dos capitalistas. Normalmente estas ONGs são as mesmas que apoiam uma ideologia esquerdista impregnada de liberalismo cultural, para a qual deveríamos ser cidadãos de um mundo único, sem identidade cultural e sem pátria. É contra este pensamento nefasto que devemos nos opor.
  4. Uma vez no Ocidente, os migrantes africanos conhecerão o inferno. Eles serão largados por conta própria, sem direitos, superexplorados, confrontados com a negrofobia. Eles servirão como uma nova força de trabalho econômica que competirá com os indígenas europeus. Ao fazer isso, a elite capitalista apátrida pretende criar um choque de classes entre os proletários negros e brancos, mas também um choque civilizacional, já que a configuração de identidade civilizacional desses povos não é a mesma. Consequentemente, o multiculturalismo excessivo, defendido pelos apóstolos da esquerda liberal, tornar-se-á, para retomar uma frase de Kemi Seba, um multiconflitualismo. É por isso que o sofrido proletariado italiano e ocidental deve parar de atacar as consequências. Ao contrário, ele deve compreender que temos o mesmo problema e, consequentemente, devemos combater os aporofóbicos globalistas que querem semear a guerra entre os pobres e erradicar ambos da matriz identitária.

Concluo com uma frase de Kemi Seba:

“Concordamos que a emigração deve cessar, mas é necessário que a partir deste momento, a classe política ocidental deixe de emigrar nossas matérias primas com a cumplicidade de nossas elites africanas”.

Fonte: Geopolitica.ru

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Sâa François Farafín Sandouno

Analista político e coordenador da ONG Urgences Panafricanistes na Itália.

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