Cultura do Cancelamento: Yale deixa de ensinar a História da Arte Europeia

Escrito por Alexander Adams
A cultura do cancelamento e a ditadura do politicamente correto se espalham. Seu objetivo é fazer tábula rasa das culturas, começando pelas europeias. Tudo é posto sob suspeita. Tudo é problematizado. Tudo é objeto de descrédito. Todo juízo de valor é impugnado. A consequência é a perda de toda noção de qualidade, a impossibilidade de transmitir cultura entre as gerações e, a longo prazo, o desenraizamento, tudo promovido sob um clima de inquisição permanente e controle do pensamento.

A Universidade de Yale está abandonando um de seus principais cursos, uma abordagem abrangente de mais de 700 anos de arte ocidental. Ela foi considerada muito ocidental, branca e masculina – e agora o cânone da arte é atirado para debaixo do ônibus politicamente correto.

A Universidade de Yale anunciou que está abandonando o curso “Introdução à História da Arte: Da Renascença até o Presente”. Este curso é uma visão geral do desenvolvimento da arte ocidental, formando um útil levantamento da cultura visual da Europa e da América do Norte.

A partir deste outono, o curso será descontinuado, apesar de ser popular e ter excesso de inscrições. Alguns alunos expressaram desapontamento, afirmando que o curso atual é uma cartilha cultural valiosa.

O tutor do curso, Tim Barringer, disse: “Eu não confundo a história da pintura europeia com a história de toda a arte em todos os lugares.” Ele também chamou o ensino da história da arte ocidental, isoladamente, de “problemático”. Na verdade, Yale acredita que um curso sobre a cultura ocidental é muito ocidental. A afirmação de Barringer ecoa a da diretora de cursos de graduação, Marisa Bass, que disse: “Nunca houve apenas uma história da história da arte”.

Ao invés de ensinar algo que não se encaixa na perspectiva multicultural dos professores universitários americanos, Yale decidiu abandonar o método mais eficaz de compreensão e memorização da arte ocidental. Em vez disso, ela vai ministrar cursos temáticos.

Yale está virando as costas para os meios utilizados durante cinco séculos para enquadrar a cultura visual, o cânone.

O Que é o Cânone?

O cânone é um dispositivo de ensino, uma lista de grandes obras de arte que explicam o desenvolvimento da tradição artística, selecionado de acordo com a influência, inovação e apreciação. Ele é usado para instruir as pessoas através de uma série de destaques relacionados, que são ordenados para fconstruir uma narrativa. Isto é verdade desde que Giorgio Vasari publicou a primeira história moderna da arte, “A Vida dos Artistas”, em 1550. Vasari concluiu esse livro discutindo seu amigo Michelangelo, retratando toda a história da arte italiana como levando à genialidade de Michelangelo.

A idéia da arte como algo que é desenvolvido de forma incremental e sequencial para alcançar um ápice de perfeição é um pouco forçada, mas não é absurdo pensar que Cimabue levou a Giotto e Masaccio então, eventualmente, a Michelangelo. Isso pode não ser totalmente preciso, mas é compreensível e fácil de lembrar. Da mesma forma que temos a mnemônica para aprender o espectro e a seqüência dos planetas, assim o cânone nos ensina uma tradição artística.

Durante 500 anos, até os anos 60, o sistema parecia ser de senso comum.

Branco demais, Masculino demais

Quando as feministas nos anos 60 começaram a reclamar que a história era escrita por homens sobre homens para homens, o cânone das belas artes foi imediatamente posto sob suspeita. Vendo apenas artistas brancos cristãos do sexo masculino, as feministas afirmaram que a arte refletia um Ocidente cristão, racista e machista. Mas suas crenças surgiram de um mal-entendido. Por razões históricas, as mulheres artistas raramente esculpiram em pedra ou criaram grandes pinturas a óleo sobre temas religiosos e históricos; portanto, não há mulheres no cânone pré-moderna das belas artes.

As feministas operaram de trás para frente, olhando para os homens no cânone e assumindo que eles foram selecionados devido ao seu sexo. A arte canônica é reverenciada pela sua qualidade e não pelas características demográficas dos criadores. A rigor, o cânone é apenas arte, não artistas.

O artista mais importante do cânone ocidental é Leonardo da Vinci – um ateu gay, canhoto e vegetariano – dificilmente o epítome dos valores majoritários.

Mudando a Cultura por Dentro

Para as feministas e outras revolucionárias sociais, havia três impulsos. 1) reescrever o cânone defendendo artistas femininas negligenciadas, 2) construir múltiplos cânones alternativos para mulheres, não-brancos, não-europeus, gays e assim por diante, e 3) destruir a validade dos cânones. Todos os três cursos foram buscados simultaneamente por diferentes figuras públicas. As professoras-escritoras Linda Nochlin, Lucy Lippard e Griselda Pollock construíram carreiras estelares trabalhando no meio acadêmico e editorial. Eram ativistas declaradas, buscando mudar a sociedade através da ruptura de padrões culturais, usando suas posições de influência dentro do sistema.

As feministas levaram artistas menos conhecidos como Artemisia Gentileschi e Judith Leyster a serem tratadas como iguais aos homólogos masculinos; múltiplas exposições, livros e cursos universitários abordaram as “histórias reprimidas” das minorias dentro das artes; os pós-modernistas atacaram os fundamentos do julgamento e proclamaram que o consenso era força sublimada impondo a vontade da maioria.

Em última análise, esta abordagem múltipla levou à crise visível hoje. A adição de figuras (expansão), a inclusão de vertentes não europeias (diluição) e o enfraquecimento das hierarquias de competência (descrédito) aleijaram as academias ocidentais enquanto transmissores eficientes de cultura. O cânone expandido é efetivamente a morte do cânone porque ele não é mais coerente e compreensível. Este cânone revisado é incontrolavelmente vasto. Impossível de ensinar, memorizar ou explicar, o cânone expandido, diluído, desacreditado deixa de funcionar como um guia confiável e é abandonado.

Perdendo Nossa Cultura

Os professores de muitas universidades ocidentais estão paralisados por uma crise de consciência e medo de serem acusados de racismo e machismo por inquisidores politicamente corretos. O cânone é agora tão fracamente defendido, mal compreendido e timidamente ensinado que Yale acha mais fácil abandonar o cânone do que ensiná-lo. Se uma sociedade deixa de acreditar na sua história fundacional, ela não pode ser transmitida para a próxima geração e a cultura se perde.

As glórias da civilização ocidental não valem mais do que um encolher de ombros envergonhado? Se deixarmos de valorizar e explicar a grandeza de Giotto, Michelangelo e Rembrandt, certamente não as merecemos mais.

Fonte: RT

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Nova Resistência
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