Mateus Pereira – “Um inimigo do povo” e a maldita fome de ouro

Por Mateus Pereira

Ibsen, o “Shakespeare do norte”, como colocou Joyce, foi um dramaturgo norueguês, amplamente considerado como o mais importante de seu país e de toda a Escandinávia, dividindo o posto com Strindberg. Muitos críticos o consideram o maior dramaturgo da Europa depois de Shakespeare e sua influência é tão ampla quanto a do bardo inglês [guardadas as devidas proporções]. Ele é o pai do realismo no teatro moderno e sua peça mais aclamada, dessa sua fase realista, é “Um inimigo do povo”, peça que foi escrita na Itália em 1882.

Ibsen foi um grande polemista, um incontrolável endiabrado, um autor amante dos escândalos e da discórdia, que vociferava com sua língua bífida contra as tradições da Europa. Sua peça “Os espectros” pôs fogo na cena cultural norueguesa da época e estimulou uma inflamada onda de revolta contra o dramaturgo, que recebeu acusações de que pregava a perversão e o amor livre, sendo ele mesmo um excêntrico insano corruptor da juventude.

Mas todas essas acusações partiam do fato de Ibsen impiedosamente desnudar a hipocrisia da sociedade burguesa de sua época, escancarando todas as convenções sociais e expondo as feridas até então escondidas sob a máscara da civilização. Não era o tipo de dramaturgo interessado em agradar multidões, estava mesmo interessado era em confrontá-las com as contradições da vida social. E isso ele fez com maestria em “Um inimigo do povo”.

Peça em geral bem recebida pelo público, narra a história de um médico que vive em uma cidade balneária no interior da Noruega cuja economia gira em torno do turismo de suas casas de banho. Esse médico, Dr. Stockmann, descobre que a água da cidade está infectada, cheia de impurezas, e, como homem da ciência, sente-se no dever de alertar as autoridades. O problema é que essa denúncia significa arruinar com a economia da cidade, o que faz com que Stockmann seja visto como um “inimigo do povo”.


É uma belíssima metáfora sobre as putrefatas estruturas sociais de nossos tempos. Da hipocrisia e da exploração criminosa até o caos amplirreinante, a pluri-horripilância, o estígio, infernal e nefasto auri sacra fames do capitalismo liberal, que em nome do Deus-dinheiro, coloca até mesmo a vida humana em segundo plano.

Texto fundamental para qualquer militante nacional-revolucionário que se revolta contra a avareza e contra o liberalismo.

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Mateus Pereira

Formado em letras, é membro da NR-DF e da Dissidência Política do DF.

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