Democracia liberal, com ou sem Lula, é fraude

Hoje é o dia em que o gado liberal de direita comemora, como se o Brasil tivesse sido salvo, e em que o gado liberal de esquerda chora, como se o futuro do Brasil estivesse ameaçado. Tudo por causa do Lula, uma das figuras políticas mais insossas a despertar as maiores paixões e sentimentalismos nas massas brasileiras.

Ele almeja ser comparado a Getúlio Vargas, forçando uma associação, mas uma visão cristalina mostra como Lula é um verdadeiro anão perto de Vargas. Comparar Vargas e Lula é comparar um estadista a um politiqueiro, a Grande Política com politicagem.

Todo o procedimento do caso de Lula, desde a fase do inquérito a essa nova condenação em segunda instância, está eivado de curiosas irregularidades, de uma pressa pouco característica do moroso Judiciário brasileiro. Mas tudo isso não tem qualquer coisa a ver com perseguição, antes, com o fato de que o Judiciário brasileiro funciona sob a lógica da Sociedade do Espetáculo.

Todos os envolvidos no caso de Lula queriam e querem aparecer na mídia, querem tentar adivinhar os sentimentos das massas e as tendências políticas futuras e surfar na onda, colhendo louros futuros com indicações para cadeiras no STJ ou STF, ou outras possíveis vantagens.

Os defensores de Lula, por sua vez, vem dizer que “Eleição sem Lula é fraude”, repetindo aquela velha cantilena de que o Sistema Financeiro Internacional tem medo de Lula, que a burguesia tem medo de Lula, etc. Por que temeriam a Lula as forças que mais se beneficiaram com o seu mandato?

Não é a presença ou a ausência de Lula que indica a “fraude” no sistema eleitoral brasileiro. É o próprio sistema eleitoral brasileiro, e os fundamentos político-ideológicos demoliberais nos quais ele se apoia, que são essencialmente fraudulentos. A democracia liberal tem sido fundamentalmente um jogo de cartas marcadas desde o fim da Ditadura Militar, com todos os presidentes desde então, sem exceção, trabalhando a serviço das mesmas forças parasitárias internacionais.

A prova disso é que o PT segue na ideia de lançar uma “Carta ao Povo Brasileiro 2.0” com o objetivo de “tranquilizar o mercado”, ou seja, prometendo a manutenção do tripé neoliberal e, quiçá, manter o máximo possível das medidas neoliberais tomadas pelo governo Temer (que, lembremos, era aliado do PT até pouco tempo atrás).

Se é verdade que pode haver circunstâncias razoáveis e legítimas que tornem aceitável tentar influenciar esse jogo (impedir males maiores, apoiar as raras figuras antissistema que se arriscam nesse meio, etc.), não se pode perder de vista que, nele, vence quem faz o possível para convencer as massas e a mídia de sua própria inofensividade.

A paciência do povo brasileiro com esse jogo tem se tornado cada vez menor. Parte do povo mergulha em níveis cada vez maiores de apatia, enquanto outros procuram desesperados qualquer alternativa que pareça vir de fora desse jogo (a maioria não passa de simulacros de “outsiders”, como Doria e Bolsonaro).

O conciliacionismo de classes de Lula se mostrou falido. Excetuados alguns feitos positivos no âmbito geopolítico, Lula ofereceu ao povo tão somente neoliberalismo econômico e progressismo moral e, assim, alienou a maior parte do povo. Ataques à classe média, aos brasileiros brancos, aos policiais e militares, a habitantes do sudeste e sul, à moralidade pública, à família, vindos dele, de políticos de seu partido ou de militantes de movimentos ligados ao seu partido, colocaram milhões de brasileiros contra ele.

Seu tripé neoliberal, suas privatizações, seu apoio às privatizações de FHC, sua recusa em auditar a dívida pública, a sua manutenção dos maiores juros reais no mundo, sua dependência dos preços altos das commodities, garantiram o aprofundamento da desindustrialização, fazendo com que qualquer crescimento econômico nesse período desaparecesse de uma hora para a outra com uma reles queda de preços nos barris de petróleo.

Se seu nome ainda atrai o apoio de 35% da população (índices de apoio menores até que os da Dilma em sua segunda eleição), é mais por desespero ou por uma triste fé cega em um falso Messias.

O momento político brasileiro demanda radicalização. O liberalismo precisa ser extirpado do Brasil. Lula não é solução.

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