O Bolivarianismo como Alternativa Multipolar Latino-Americana

(Texto do camarada Lucas L.)

Eurásia é multipolaridade. Assim, Eurásia é também Mercosul. Eurásia é também Bolivarianismo.

Não há um norte dissidente, verdadeiramente revolucionário, em terras latinas fora àquele avistado à luz dos escritos d’el libertador Simón Bolívar. Nosso norte é o sul. O sul integrado, uno e livre. O sul socialista, cristão e bolivariano.

Não há alternativa para as identidades e epistemologias do sul fora à integração continental. Autonomia plena aos povos do sul. Autonomia aos gaudérios, aos quilombolas, aos indígenas, aos caboclos, aos paulistas. Autonomia a todos os povos que formam a identidade latina. Autonomia dentro dos limites da soberania nacional. Soberania nacional integrada ao projeto da América Bolivariana. Princípio básico de um mundo policêntrico. Isto requer todo um novo entendimento. Uma quarta via revolucionária se faz necessária em todos os campos.

Bolívar vive! O mito de Bolívar. O libertador Bolívar. Não o Bolívar maçom ou liberal clássico. Mas o Bolívar revolucionário e o Bolívar cristão. O Bolívar socialista (como não?). O visionário Bolívar que quis a América hispânica unida em todas as frentes. O Bolívar simbólico, lendário, mitológico. O arquétipo Bolívar.

Bolívar está em Juan Perón, em Che Guevara, em Fidel Castro, em Hugo Chávez. Bolívar está em Evo Morales e em Rafael Correa. Bolívar está na resistência latino-americana desde tempos imemoriais. Ele está inclusive em Getúlio Vargas, que, junto a Juan Perón, planejou iniciar um projeto de integração continental, antes de ambos terem sido derrubados pelas forças da Reação. Bolívar continuará sendo o símbolo máximo dos dissidentes à exploração imperial sobre nossos povos por muitos e muitos anos.

De que valem bandeiras e símbolos? Ideologias e máscaras sectárias que atrasam nossa luta comum contra o mesmo inimigo? Nossa luta é nacionalista. É socialista. E é também cristã.

Bolívar está em tudo aquilo que faça frente à humilhação de nossos povos. Cristo está em nossa luta por libertação, em nossa herança; no seio de nossa identidade. No âmago de toda frente revolucionária e de toda dissidência ao Capital, não estaria em nossa luta também, hoje, diante de toda nova noção teórico-conceitual de contra hegemonia, Aleksandr Dugin?

Muito contrário ao que se costuma dizer pelos núcleos difamatórios, propagadores da mentira e perpetuadores do imperialismo, o bolivarianismo jamais esteve atrelado a um projeto revolucionário marxista-leninista. Desde os tempos de Simón libertador, existe um ideal de integração continental da América hispânica. Uma luta integracionista na América Latina é indissociável de uma luta de libertação nacional dos povos do sul.

Se Simón Bolívar, libertador de nossos povos, lutou contra o domínio colonial espanhol, coube a nossos líderes do Século XX, como nos cabe a nós, hoje, o dever da luta contra o hegemonia liberal americano-ocidental. É dever de todo revolucionário fazer resistência a todo espécime hegemônico supranacional. É de nossa responsabilidade combater a interferência de interesses estrangeiros nos rumos nacionais, pondo assim fim a toda forma de parasitismo.

Pelo direito à soberania e à autodeterminação. Pelo direito à identidade de nossos povos. Por um mundo multipolar e livre de hegemonias. Tudo isto nos concerne em nossa resistência latino-americana, estando no seio de toda principiologia bolivariana.

E a respeito de que enfrentaremos excessos e dificuldades em nossa caminhada pós-revolucionária, lembremos de que mais vale equilibrar a liberdade do que suportar o peso da tirania. Não existe direito de hegemonia. Se um governo faz uso de políticas reprováveis, não cabe a nenhum país alheio às circunstâncias nacionais interferir e nem mesmo sancionar. Autodeterminação é liberdade. É a liberdade que almejamos. E para tal devemos abolir o imperialismo.

Queremos a ascensão, libertação e afirmação das nossas nações em um mundo multipolar. Queremos preservar nossas identidades e construir nossa Pátria Grande. Socialista, nacionalista, revolucionária, cristã. Socialista? Por que não? Nossa luta é supra-ideológica. É identitária. E dela depende a libertação da América Latina.

Somos latinos. Temos nossa herança. Nosso Deus e nosso sangue. Católico, ibérico. Somos socialistas? Por certo, revolucionários. Somos nacionalistas? Sem dúvidas, exaltadores da autodeterminação, da identidade e da soberania. Nada mais importa. E perante isso que se estremecem o americanismo e o globalismo.

Os lacaios do Capital não temem o socialismo, o patriotismo ou o cristianismo. Eles, por contrário, os cooptam e os tornam seus cães. Mas tremem diante do socialista patriota e cristão que se ergue contra seus domínios; o latino revolucionário que luta por sua pátria e também por seu Deus. Não há maior perigo para o imperialismo do que uma identidade conservada. Ideologias não são ameaça alguma.

Pouco nos importa as matrizes ideológicas de nossos líderes históricos e contemporâneos. O pensamento liberal-iluminista de Bolívar. Nacionalista de terceira-via de Perón. Marxista de Che. Socialista e cristão de Chávez. Foram e são ou não todos eles símbolos indissociáveis de uma mesma luta? Da causa de libertação nacional dos povos da América Latina.

Há algo a se retirar do humanismo cívico, do socialismo revolucionário, do nacionalismo orgânico e do cristianismo popular. Há algo a se retirar das democracias progressistas extremamente modernas para um justo processo de superação da Modernidade – consequência natural do identitarismo (maior inimigo do liberalismo globalista e amórfico, o prisma do Mundo Moderno). Há Quarta Teoria Política no Bolivarianismo e na resistência de esquerda latino-americana. Há eurasianismo. Há multipolaridade.

E, dado o exposto, enaltecemos a importância vital de um processo de integração continental da América hispânica. Um projeto geopolítico de matriz identitária, sendo fundamentalmente uma luta supra-ideológica e supra-partidária.
Aquele que erguer os braços pela libertação nacional é nosso camarada. O entreguista e o conciliador são nossos inimigos. Pouco nos importam ideologias, símbolos, nomenclaturas e bandeiras. A resistência é indivisível.

Nossa luta segue sendo uma luta à morte. Em nenhum momento mentimos sobre as dimensões da Revolução. Estejamos atentos, sóbrios e vigilantes. Jamais abandonemos o princípio da ação. É nosso dever lutar até a vitória, sempre.

Guerra de morte ao imperialismo!

Por uma América Latina integrada, indivisível.

Socialista, cristã e bolivariana.

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Lucas Leiroz

Ativista da NR, analista geopolítico e colunista da InfoBrics.

Artigos: 54

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