A ciência da propaganda ainda está sendo desenvolvida e avançada

Caitlin Johnstone traz em evidência a falácia da liberdade na democracia liberal a partir do olhar do desenvolvimento da tática militar de propaganda de conteúdo, com o intuito de moldar e explorar informações para evitar o dissenso político e crítico quanto a questões base da famigerada “democracia”.

Por Caitlin Johnstone

Vivemos em uma sociedade cada vez menos livre do que imaginávamos.

O que temos é a mera aparência de liberdade. Não somos jogados na prisão por criticarmos nossos governadores, podemos votar em quem quisermos, é possível obter acesso a qualquer tipo de informação que tivermos interesse, há possibilidade de escolher qualquer produto dentro da imensidão de marcas disponíveis.

Porém, não somos livres. Nosso sistema político é configurado de modo bipartidário, sendo controlado em ambos os sistemas por plutocratas. As informações as quais as pessoas consideram como fonte para suas decisões de voto são moldadas conforme a mesma classe dos plutocratas, e extremamente influenciadas por agências secretas do governo. Algoritmos de internet são manipulados com o intuito de manter fácil acesso às informações para a manutenção do status quo dominante. Sendo o próprio entretenimento abundantemente influenciado pelo Pentágono e pela CIA.

Afinal, o quão livre é seu pensamento se há uma miríade institucional como salvaguarda para evitar que o discurso efetue mudanças políticas?

Não importa se você tem permissão para dizer, se não importa o que você diz. Não importa se você tem permissão para chamar de idiota o fantoche oligárquico colocado no cargo pela última eleição falsa. Não importa se você tem permissão para pesquisar no Google qualquer informação que deseja, se isso se dá apenas para encontrar qualquer informação que o Google deseja que você encontre.

Qual a diferença prática entre um regime que diretamente censura a internet para prevenir o dissenso político, e um regime que trabalha com os plutocratas do Vale do Silício no intuito de controlar a informação via algoritmos e ter um sistema que previne o dissenso para a não ocorrência de nenhum impacto significativo? Nenhum.

Totalitarismo revestido em uma roupagem de democracia liberal ocidental, essa é a profunda carência de liberdade disfarçada de liberdade.

E isso está piorando. A propaganda está em pleno desenvolvimento científico.

No último mês o jornal Ottawa Citizen relatou que o Exército canadense utilizou-se do surto de Covid-19 como desculpa para testar a atual técnica militar psicopata em sua própria população de civis, sob o pretexto de assegurar diretrizes para as restrições pandêmicas.

Alguns trechos:

  • “Líder militar canadense diz que pandemia é oportunidade única para testar propaganda técnica em um público desavisado, recentemente lançado no relatório das Forças Canadenses”
  • “O plano elaborado pelo Comando de Operações Conjuntas do Canadá, também conhecido como CJOC, dependia de técnicas de propaganda semelhantes às utilizadas durante a guerra do Afeganistão. A campanha exigia ‘moldar’ e ‘explorar’ a informação. O CJOC alegou que o esquema de operações de informação era necessário para impedir a desobediência civil dos canadenses durante a pandemia do coronavírus e para reforçar as mensagens governamentais sobre a mesma.”
  • “Uma iniciativa separada, não vinculada ao plano CJOC, mas supervisionada por oficiais de inteligência das Forças Canadenses, coletou informações de contas públicas de mídia social em Ontário. Os dados também foram compilados em encontros pacíficos junto ao Black Lives Matter e líderes BLM.”
  • “Esta é realmente uma oportunidade de aprendizado para todos nós e uma chance de começar a colocar as operações de informação em nossa rotina (CAF-DND)’, afirmou o contra-almirante.”
  • “Mais uma revisão centrada no ramo de relações públicas das Forças Canadenses e suas atividades. No ano passado, a filial lançou um plano polêmico que teria permitido que oficiais militares de relações públicas usassem propaganda para mudar atitudes e comportamentos dos canadenses, bem como coletar e analisar informações de contas públicas de mídia social.”
  • “O plano teria feito o pessoal passar dos métodos tradicionais do governo de comunicação com o público para uma estratégia mais agressiva de usar guerra de informação e táticas de influência sobre os canadenses”.

Portanto, eles não estão apenas empregando operações psicológicas em grande escala no público, estão testando e aprendendo com elas. E podemos provavelmente presumir que qualquer coisa que possa ter sido aprendida também foi compartilhada com as agências governamentais de outros membros da OTAN.

Num novo artigo intitulado “Por trás da ‘guerra cognitiva’ da OTAN: os militares ocidentais estão a travar uma ‘batalha pelo seu cérebro”, Ben Norton do The Grayzone relata como as recentes discussões patrocinadas pela OTAN defendem explicitamente a necessidade de avançar a ciência da guerra cognitiva tanto para fins ofensivos como defensivos.

Alguns trechos:

  • “A OTAN está lançando um tipo inteiramente novo de combate que classificou como guerra cognitiva. Descrito como o ‘armamento das ciências do cérebro’, o novo método envolve ‘hackear o indivíduo’ explorando ‘as vulnerabilidades do cérebro humano’ para implementar ‘engenharia social’ mais sofisticada.
  • “Embora o estudo apoiado pela OTAN insistisse que grande parte de sua pesquisa sobre guerra cognitiva é projetada para fins defensivos, também admitiu que a aliança militar está desenvolvendo táticas ofensivas, afirmando: ‘O humano é muitas vezes a principal vulnerabilidade e deve ser reconhecido para proteger o capital humano da OTAN, mas também para poder tirar partido das vulnerabilidades dos nossos adversários.”
  • “Em uma revelação assustadora, o relatório afirmou explicitamente que ‘o objetivo da Guerra Cognitiva é prejudicar as sociedades e não apenas os militares’.”
  • “O estudo descreveu esse fenômeno como a ‘militarização da neurociência’. Mas parece claro que o desenvolvimento da guerra cognitiva da OTAN levará à militarização de todos os aspectos da sociedade humana e da psicologia, desde as relações sociais mais íntimas até a própria mente.”
  • “Em outras palavras, este documento mostra que as figuras do cartel militar da OTAN cada vez mais vêem a sua própria população civil como uma ameaça, temendo que estes sejam células adormecidas chinesas ou russas, covardes ‘quintas colunas’ que desafiam a estabilidade das ‘democracias liberais ocidentais .’”
  • “Naturalmente, o pesquisador da OTAN afirmou que ‘adversários’ estrangeiros são os supostos agressores que empregam a guerra cognitiva. Mas, ao mesmo tempo, ele deixou claro que a aliança militar ocidental está desenvolvendo suas próprias táticas.”

Em um ensaio de 2017 intitulado “The War on Sensemaking”, o escritor Jordan Greenhall fez uma observação sobre a qual tenho pensado desde então: a ciência da propaganda moderna está em pesquisa e desenvolvimento há mais de um século e necessariamente avançou cientificamente tanto quanto outros campos nas forças armadas.

Em 1917, um jovem Edward Bernays foi convidado a ajudar no esforço de guerra estadunidense aplicando as teorias do inconsciente de seu tio Sigmund Freud a uma nova técnica alemã chamada ‘propaganda’, escreve Greenhall. “A tecnologia da guerra avança rapidamente. No espaço de um século e meio, a última guerra saltou de rifles longos para rifles de repetição e metralhadoras por todo o caminho até Little Boy. Os combatentes da guerra atual não se demoram. As guerras de cultura, significado e propósito viram a inovação em uma ‘curva de tecnologia exponencial’. Os esforços artesanais de Bernays e Goebbels foram deixados no passado por métodos modernos.”

Pense em quantos avanços tecnológicos ocorreram nas forças armadas no último século. Nossos governantes têm aprimorado seus métodos de manipulação das nossas habilidades na criação de sentido em proveito próprio durante todo esse tempo, e apenas uma pequena minoria de nós começou a perceber que essa manipulação está acontecendo. Estamos apenas aprendendo a jogar damas enquanto dominam o xadrez 3-D.

Não há nenhuma solução para esse problema a não ser espalhar a consciência de que isso está acontecendo. A propaganda só funciona se você não entender (A) que está acontecendo com você e (B) como está acontecendo, e uma consciência básica do fato de que existe uma campanha global para manipular o pensamento humano em benefício dos poderosos é o primeiro passo para ter esse entendimento. Ter a humildade de entender que você mesmo pode ser manipulado e enganado é o segundo passo.

Minha esperança é que a humanidade transcenda sua suscetibilidade psicológica à manipulação, e se mova para um relacionamento saudável com a narrativa mental à medida que nosso precipício de adaptação ou morte se aproxima. Mas somente o tempo dirá.

Fonte: Caitlin’s Newsletter

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Nova Resistência
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